sexta-feira, dezembro 09, 2005

Continuando…


Hoje seria dia de nos encontrarmos para podermos reflectir, face a face, sobre o que nos trouxe a semana. Sobre o que escrevemos e comentámos neste blog. Por isso aqui estou. Creio que não aprofundámos devidamente o tema avaliação – classificação, que veio agora à superfície com a notícia de uma eventual redução de exames no 12º ano. Julgo ter dito isto numa das aulas, mas de qualquer modo repito-o para que fique escrito.
Em meu entender, a ideia de um exame formal, a finalizar um ciclo de estudos, não é um mal em si. Contudo, é sempre uma situação contingente e por isso não pode nem deve ser isolada do contexto em que decorreu a formação que pretende certificar. E há áreas que, pela sua especificidade, suportam mal a ideia de um exame. Por exemplo, pensemos na Filosofia, que julgo ser uma das matérias na qual se pensa abolir. Filosofia é especulação, é desafio ao pensamento, é necessariamente diálogo. Fui, durante vários anos, professor de Filosofia. Ao longo do ano apercebia-me claramente da aptidão dos meus alunos para a disciplina, eles “acertavam” o meu estilo ao seu, e mesmo que existissem provas escritas, conheciam a minha margem de tolerância. A minha avaliação projectava um conhecimento razoável que eu tinha de cada um, certamente subjectivo mas nem por isso menos isento. Ora muitas vezes fui surpreendido por, nos exames, ver alunos meus que claramente eram de grande qualidade terem classificações modestas, e alunos que eram francamente fracos aparecerem com classificações de distinção. Porquê? Certamente porque quem os avaliara não estava em consonância com o que eles tinham aprendido nem com o que eu tinha procurado fazer com que eles aprendessem… Como o que contava – na altura – era apenas a nota do exame, sem qualquer influência das classificações que o aluno tinha tido nos períodos, sempre pensei que acontecera injustiça.

Por outro lado, penso que a nível da escolaridade obrigatória a ideia de exame é um contra-senso, o que não impede que não exista uma certificação. Nos estudos subsequentes, admito os exames moderados por outras formas de avaliação que contribuam para a classificação.

Desde há muito que partidários e adversários dos exames se digladiam. Mas creio que à parte um número cada vez menor de “resistentes”, cada vez existe mais a ideia de que eles serão dispensáveis se outros contextos existirem (e existem) para certificar as capacidades desenvolvidas no âmbito da escolaridade.

Boas aulas para hoje e amanhã!

5 comentários:

AntonioPacheco disse...

Já tinha feito um breve comentário sobre o assunto e reitero aqui a minha posição, relativamente aos exames. Concordo perfeitamente que existem outras formas alternativas, mais capazes, para avaliação dos alunos.

Marta Pinto disse...

A avaliação no final do 12º ano em forma de exame nacional, não me parece errada, caso os alunos pretendam seguir para o ensino superior. Talvez nessa fase se torne necessário avaliar segundo parâmetros nacionais, as capacidades desenvolvidas no âmbito da escolaridade de forma a seleccionar aqueles que prosseguirão os estudos académicos. Claro que no que se relaciona com a sensível questão de acesso ao ensino superior, se as instituições de ensino superior fizessem provas de conhecimento e de vocação aos alunos que se candidatam aos cursos que oferecem, os exames nacionais tornar-se-iam menos num “drama” ou uma injustiça e passavam calmamente a fazer parte integrante do processo de avaliação. Contudo na minha opinião, não é pelo facto de haver exames nacionais que os alunos aprendem mais ou melhor, a aprendizagem é um processo contínuo tal como é o da avaliação, penso o peso em termos de percentagem deve ser maior para a avaliação contínua.
Recordo-me dos exames nacionais que realizei no 12º ano, exceptuando o exame de língua portuguesa no qual obtive uma classificação dois valores acima da nota final do 3º período, a todas as restantes disciplinas mantive ou subi um valor em termos de avaliação quantitativa. Estudei muito para o exame de “História da Arte” e no final obtive a mesma classificação que a do final do período lectivo, na altura questionei sobre se valia a pena fazer os alunos passar pelo “stress” de um exame nacional quando o que ele tinha aprendido durante três anos de ensino secundário não iria esquecer, nem iria em duas semanas de estudo aprender muito mais.

Cândido M. Varela de Freitas disse...

O exemplo que o Delfim dá (da linguagem sincopada das Msg) é importante. Um professor não pode aceitar (tolerar) que um aluno escreva assim, como tem de emendar palavras mal pronunciadas, ou erros gramaticais. Só assim se pode promover aprendizagem. Os exames não o fazem.

Marta Pinto disse...
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Marta Pinto disse...

Concordo com o comentário que o professor fez. De facto é da responsabilidade de todos os professores, sempre que um aluno pronuncia ou escreve mal uma palavra, o corrigir. Recentemente uma aluna perguntou-me, depois de emendar algumas palavras que ela tinha pronunciado mal:
- A professora também é professora de Língua Portuguesa?
Lá conversamos sobre a importância de falar correctamente para escrever correctamente.