quarta-feira, novembro 10, 2004

Continuando...

Continuando a análise dos aspectos levantados no vosso comentário, que como disse sumaria pontos importantes de teoria do currículo, nesta segunda “tranche” da minha prosa vou dar ênfase mais a aspectos do desenvolvimento curricular.
Dizem que nem todos os professores aproveitarão plenamente a liberdade que lhes é concedida; têm razão. A esmagadora maioria dos professores não só não a aproveita como, por vezes, a usa menos bem.
Eu parto sempre da ideia, que tento fazer compreender aos meus alunos, que o currículo não é o livro de texto (manual), não é o “programa” que o Ministério da Educação aprova, mas sim o que acontece quando professor e alunos se encontram (não necessariamente na sala de aula). Por exemplo, neste momento, eu estou convosco, a distância e ainda por cima de modo assíncrono, a construir o currículo da disciplina de Currículo e Cultura…
Claro que o ensino superior permite uma maior liberdade de acção, mas mesmo a outros níveis de ensino é possível (mais: é desejável) ter em atenção os alunos, estar atento ao que acontece à nossa volta, para podermos contextualizar as aprendizagens.
Aquilo que habitualmente se chama criar a motivação nos alunos é apenas o captar a sua atenção e vontade de aprender pelo despertar o seu interesse pelas aprendizagens que se querem eles apropriem. Quanto mais simples e actuais forem os motivadores, mais facilmente se consegue a motivação; e aqui, a liberdade de acção do professor é muito grande.
Sejamos no entanto justos: não é fácil, para os professores portugueses, a libertação dos espartilhos que os têm tolhido – manuais, programas… O nosso sistema de ensino é muito rígido (sinais recentes de mudança foram bloqueados, e pior do que isso, medidas tomadas contrariam a visão estratégica que existia e tendia a flexibilizar o currículo), contem ameaças (a Inspecção, por exemplo, que embora seja mais uma ameaça platónica de vez em quando fere) e, para cúmulo, nem sempre a relação escola – família funciona bem.
Contudo, não sendo fácil, é esse o caminho. Porquê?
Em primeiro lugar, porque estamos, em qualquer situação, a lidar com a diferença. Mesmo quando os nossos alunos provêm de estratos socio-económicos-culturais semelhantes, eles são diferentes; cada um terá uma maneira mais eficaz de aprender, e ignorar isso é minar a capacidade de o professor ter êxito. Por outras palavras, o processo de ensino-aprendizagem deve ser individualizado. Muitas pessoas pensam que só crianças com dificuldades de aprendizagem devam ter planos individualizados de aprendizagem, mas não. Uma turma com 20 ou mais crianças (sem problemas) não pode ser comandada como um exército; cada criança é um caso que tem de ser compreendido e acompanhado para tirar o máximo das suas potencialidades.
Por isso estou inteiramento de acordo convosco quando dizem que “a mudança… deve ser centrada no processo educativo”.
Farei ainda uma terceira visita ao blog para terminar esta análise.

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