quarta-feira, novembro 09, 2005

As relações sócio-culturais e a escola

A sociologia apareceu, propriamente dita, no início do século XX ligada a nomes como Durkheim (1858), Lévy-Bruhl (1857), Max Weber (1864), entre outros, e coloca como princípio, quase postulado, o facto do indivíduo não existir senão na e pela sociedade, que não tem existência em si e para si. Participa na «consciência colectiva», Durkheim, ou, ainda, insere-se nas categorias sociais, «tipo ideais» de Max Weber.
Desta forma abordam, pela primeira vez, o difícil problema da dependência do indivíduo em relação ao meio ambiente humano em que vive, isto é, o problema da cultura.
Estudos mostram-nos que os níveis intelectuais das crianças dependem estritamente do nível sócio-cultural das famílias onde são educadas.
Cyril Burt, em Inglaterra, calculou para cada categoria sócio-profissional, o quociente intelectual dos pais e o das crianças e concluiu que tanto um como outro diminuem regularmente à medida que passam das categorias sócio-profissionais superiores para as inferiores.
Isto não significa, contudo, que os pais, fazendo parte de uma ou de outra classe social transmitem muito simplesmente este nível intelectual aos filhos. Estudos mais aprofundados mostram que não é o quociente intelectual dos pais que influencia o desenvolvimento das crianças, mas sim a estrutura e os componentes do meio, constituídos apenas numa parte pelos pais.
Se os pais mudam de meio geográfico e humano, as crianças evoluem em função desta mudança e podem atingir um nível intelectual mais elevado, enquanto os pais conservam um nível intelectual relativamente baixo. O nível intelectual é tanto mais elevado quanto mais industrial, mais desenvolvida e mais urbanizada for a região de implementação.
A influência do meio faz-se sentir também na evolução da personalidade, da afectividade e do carácter. Os interesses e as atitudes variam segundo as categorias sócio-culturais. Verifica-se uma grande diferença entre a estrutura de interesses dos adolescentes dos meios populares e a dos pertencentes a meios mais favorecidos. A má adaptação escolar dos primeiros desempenha um papel considerável ao afastá-los da cultura. A própria delinquência não escapa aos condicionamentos sócio-culturais, como demonstra o estudo Crimes et villes (1) : a criminalidade acompanha o crescimento da urbanização e da industrialização nos meios em progressão social.
Não é o meio em si, enquanto estrutura sócio-económica, que tem influência, mas sim as opiniões e atitudes que existem nesse meio. Estas atitude e opiniões variam muito segundo os níveis sócio-culturais. Os meios populares, geralmente, caracterizam-se pela maior frequência de atitudes de tipo hostil, enquanto as atitudes sobreprotectoras e restritias caracterizam, sobretudo, os meios superiores (2).
(1) D. Szabo, Crimes et villes, Ed. Cujas, 1960
(2) M. Lobrot, «Sociologie des activités éducatives», Enfance, Jan.-Fev., 1962
Bibliogrfia:
Lobrot, M., Os efeitos da educação, Ed. 70, 1974

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